Ele era um cara comum.
Tão comum que se chamava José da Silva.
Mais comum que o nome, só apelido pelo qual era conhecido: seu Zé.
Seu Zé era um sujeito magro, de estatura alta e de pele morena. No meio do cabelo escuro, se encontravam alguns poucos fios brancos. Tinha 69 anos, trinta e oito deles dedicados ao trabalho em uma indústria metalúrgica.
Pernambucano, semi-analfabeto, veio do Norte ainda moço em busca de um lugar ao sol na cidade grande. Em São Paulo, arrumou emprego, mulher, filhos, família. Comprou uma casa, um carro, um cachorro. Nada muito diferente de tantos outros Zés espalhados por ai.
Trabalhava muito, se divertia pouco. Nas poucas vezes que viajava, ia para Pirassununga, no interior de São Paulo, onde moravam os pais e irmãos da esposa. Uma família comum, vida comum, um homem comum.
Sua vida começou a se findar quando se aposentou. Durante os primeiros meses ficava inquieto. Acordava todos os dias as quatro e meia da manhã. Horário que costumava acordar para ir ao trabalho. Chegou a bater na porta da sua antiga empresa pedindo para voltar a trabalhar, nem que fosse meio período, nem que recebesse apenas uma ajuda de custo. Mas o tempo passou.
Resolveu então abrir um negócio. Abriu um boteco, na rua de sua casa. Mas seu Zé não tinha paciência com os bêbados, nem com as as vendas fiadas. Fechou depois de um ano. Resolveu abrir uma doceria, depois um bazar. Nenhum deu certo. Por dentro se sentia vivo, disposto, pronto para continuar produzindo. Mas já não encontrava espaço. O tempo passou e depois de alguns anos, resignou-se. Aceitou que não tinha mais o que fazer. Perdeu a disposição que tinha.
Os filhos casaram e partiram de casa. O tempo também lhe levou a esposa. Na velha casa amarela, restava apenas a companhia do velho cachorro. Cego, manco, mas leal.
Passou a dividir o tempo entre jogos de dama na praça do bairro e as conversas jogadas fora no boteco da esquina. Sem sonhos, sem planos. Apenas deixando o tempo passar, coisa que as vezes custava acontecer.
No último natal, os filho trouxeram os netos. Comeu panetone e ganhou presentes. A casa estava cheia, mas a vida continuava vazia.
Até que, em uma certa manhã, Seu Zé se sentiu mais indisposto do que o normal. Uma dor lhe queimava o peito. Dor que no início era aguda e intensa, mas que logo foi se tornando reconfortante. Percebeu que havia chegado à hora.
Abriu um sorriso e caiu no chão.
Durante o velório, nos cantos do pequeno salão, o que se falava era que seu Zé era um sujeito comum, que sempre quis algo a mais da vida. Mas morreu sem saber o que.
Tão comum que se chamava José da Silva.
Mais comum que o nome, só apelido pelo qual era conhecido: seu Zé.
Seu Zé era um sujeito magro, de estatura alta e de pele morena. No meio do cabelo escuro, se encontravam alguns poucos fios brancos. Tinha 69 anos, trinta e oito deles dedicados ao trabalho em uma indústria metalúrgica.
Pernambucano, semi-analfabeto, veio do Norte ainda moço em busca de um lugar ao sol na cidade grande. Em São Paulo, arrumou emprego, mulher, filhos, família. Comprou uma casa, um carro, um cachorro. Nada muito diferente de tantos outros Zés espalhados por ai.
Trabalhava muito, se divertia pouco. Nas poucas vezes que viajava, ia para Pirassununga, no interior de São Paulo, onde moravam os pais e irmãos da esposa. Uma família comum, vida comum, um homem comum.
Sua vida começou a se findar quando se aposentou. Durante os primeiros meses ficava inquieto. Acordava todos os dias as quatro e meia da manhã. Horário que costumava acordar para ir ao trabalho. Chegou a bater na porta da sua antiga empresa pedindo para voltar a trabalhar, nem que fosse meio período, nem que recebesse apenas uma ajuda de custo. Mas o tempo passou.
Resolveu então abrir um negócio. Abriu um boteco, na rua de sua casa. Mas seu Zé não tinha paciência com os bêbados, nem com as as vendas fiadas. Fechou depois de um ano. Resolveu abrir uma doceria, depois um bazar. Nenhum deu certo. Por dentro se sentia vivo, disposto, pronto para continuar produzindo. Mas já não encontrava espaço. O tempo passou e depois de alguns anos, resignou-se. Aceitou que não tinha mais o que fazer. Perdeu a disposição que tinha.
Os filhos casaram e partiram de casa. O tempo também lhe levou a esposa. Na velha casa amarela, restava apenas a companhia do velho cachorro. Cego, manco, mas leal.
Passou a dividir o tempo entre jogos de dama na praça do bairro e as conversas jogadas fora no boteco da esquina. Sem sonhos, sem planos. Apenas deixando o tempo passar, coisa que as vezes custava acontecer.
No último natal, os filho trouxeram os netos. Comeu panetone e ganhou presentes. A casa estava cheia, mas a vida continuava vazia.
Até que, em uma certa manhã, Seu Zé se sentiu mais indisposto do que o normal. Uma dor lhe queimava o peito. Dor que no início era aguda e intensa, mas que logo foi se tornando reconfortante. Percebeu que havia chegado à hora.
Abriu um sorriso e caiu no chão.
Durante o velório, nos cantos do pequeno salão, o que se falava era que seu Zé era um sujeito comum, que sempre quis algo a mais da vida. Mas morreu sem saber o que.